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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Rentrée Num piscar de olhos

Após algum tempo de paragem, está na hora de reativar este blog.
Num piscar de olhos pretende promover uma reflexão sobre a deficiência visual. Conta histórias que são de todos, mas não são de ninguém.
Quem passa por problemas visuais graves, ou tem familiares que passam por eles, sabe o difícil que é lidar com isso.
Hoje conheci um senhor que está praticamente cego. O último ano de vida foi passado a lutar, entre operações, para não perder o pouco de visão que tem. O luto instalou-se na sua vida. Esteve praticamente 6 meses sem sair de casa (só o essencial) e as interações sociais resvalaram para o nível 0. Apesar do grande apoio do núcleo familiar, este senhor foi completamente ostracizado por muitos que se diziam seus amigos. O que faz estas pessoas afastarem-se? São as pessoas que se afastam por, muitas vezes, nem compreenderem a diferença, ou nem sequer a aceitam? Ou será o próprio indivíduo que se fecha sobre si mesmo? Será que, ao perceber que já não desempenha o mesmo papel social, se isola, erguendo barreiras à sua volta, afastando tudo e todos?
Felizmente, estas situações são temporárias, dependem de pessoa para pessoa, mas tem sido tema comum nas conversas que vou tendo com alguns utentes do gabinete.
É pena que tenham que passar por isso, antes de procurar/ aceitar ajuda.
O senhor que conheci hoje já (aparentemente) 'ultrapassou' isso. Está com uma enorme vontade de aprender. Está a redescobrir o seu papel na sociedade. Não se conforma. Quer lutar. Quer melhorar a cada dia. E nós estamos cá, para ajudar e orientar. Mas, no essencial, a força de querer mudar, de querer aprender, está dentro da pessoa. Essa força é o combustível que os motiva, que nos motiva a procurar dar respostas a pessoas que, de um momento para o outro, ficaram sem visão.
A visão poderão nunca recuperar, mas a dignidade, essa, está ali ao virar da esquina, numa deslocação autónoma, num apanhar do autocarro, no ver as horas, no comunicar ao telemóvel, numa ida ao café, no atravessar de uma estrada numa passadeira sinalizada...
Cabe a nós, enquanto sociedade, de estar alerta e zelar por aqueles que de alguma forma ficaram mais vulneráveis devido a uma qualquer doença.
De duas horas de conversa deixo aqui a parte que mais me comove e alegra:

"Quando conheci o gabinete (GADV) e o Leonel, foi como se fosse um rapazito a quem tinham oferecido o primeiro telemóvel. Estou eufórico."

Eu lembro-me bem da euforia que tive quando me ofereceram o meu primeiro telemóvel e já não era nenhum rapazito.
É bom ver as pessoas felizes.

Um bem haja à Câmara Municipal de Torres Vedras pelo apoio prestado às pessoas com DV.
FMM

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