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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Autonomia no 'terreno'


Vale a pena amigos, vale mesmo a pena. Ia eu na minha vida quando vejo ao longe o meu amigo Carlos, utente do GADV, sozinho, com a sua bengala a dirigir-se, vindo da Av. 5 de Outubro para o Jardim da Graça, a fim de ir para o gabinete. A pessoa que há meses precisava de um guia para se deslocar para todo o lado estava ali, cheio de confiança e a deslocar-se com a dignidade que merece. A autonomia é isto. Foi um enorme orgulho vê-lo ali, não esperava encontrá-lo. Não me dirigi logo a ele, fiquei à distância a observar. Sabia bem que caminho iria tomar e que passadeira iria atravessar (na verdade, já passáramos ali muitas vezes), por isso esperei no final da passadeira. Os seus passos eram lentos, mas seguros. Sabia para onde ia e estava a fazer as coisas com segurança, pois a pressa pode ser inimiga e um descuido pode ser perigoso. Um automobilista distraído, um sinal no passeio, um buraco na estrada, qualquer coisa pode provocar um acidente. Lá atravessou a passadeira, cumprimentei-o efusivamente e festejei o percurso. Vinha do mercado municipal e acabou por se queixar novamente da falta de sinalização no piso que dê pistas para as entradas do local. Já tínhamos lá ido duas vezes e foi isso mesmo que constatámos. O percurso até à praça é relativamente tranquilo, com treino, mas assim que se chega perto do edifício não há forma de se saber onde fica a entrada. O Carlos voltou a lamentar isso. Talvez umas guias orientadoras no piso (ok, pode não ser a coisa mais bonita do mundo, nem se enquadrar com o tipo de piso) poderiam facilitar a orientação de quem não vê. Vale a pena, pelo menos, colocar essa possibilidade e refletir numa possível solução para isso.

Devemos ouvir as sugestões das pessoas com problemas visuais. São elas que sabem, da única maneira possível, aquilo que é preciso alterar.

É fácil colocarmos uma venda nos olhos e simularmos as coisas e tentarmos perceber o que melhor se adequa, mas, meia hora depois, tiramos as vendas e voltamos à nossa vida. 

Eles, andam de venda a vida toda...
FMM

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