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terça-feira, 25 de outubro de 2016

(A Falta de) Autonomia no 'terreno'.


Em plena Semana da Visão é importante fazer também uma reflexão sobre aqueles que, estando a perder a visão, ainda não conseguiram 'dar a volta' e iniciar o seu processo de reabilitação. No outro dia relatei aqui o encontro feliz que tive com um dos utentes do GADV, o qual vinha no seu caminho, com a sua bengala, a deslocar-se com confiança e segurança. Há, no entanto, casos em que não é (ainda) possível atingir este grau de autonomia e segurança.
Enquanto caminhava pela cidade (é algo de que gosto muito de fazer, calcorreio a cidade muitas vezes) encontrei uma outra pessoa ligada ao GADV. Estava parada no meio do passeio, de olhar disperso e com ar muito inseguro. Como sei que não vê o suficiente para me reconhecer, dirigi-me à mesma e falei, assinalando a minha presença. Como não percebeu o nome e não reconheceu de imediato a minha voz ficou muito insegura, desconfiada. Insisti e lá me reconheceu. Estava à espera de alguém que haveria de guiá-la para qualquer lado. Como vê muito mal, não ousava mexer-se, estava ali, parada no meio do passeio, à espera. Perguntei se precisava de alguma coisa, se queria ir para algum lugar. Respondeu que não precisava de nada, que estaria alguém a chegar para a ajudar. Esta pessoa ainda não aceitou a sua condição. Tem recusado aulas de orientação e mobilidade. Tem vergonha. Ainda não consegue lidar com o peso do estigma. Respeito isso e espero pelo tempo certo. Quanto tempo demorará a ultrapassar isto? O quanto sofrerá uma pessoa que sente que, de dia para dia, está a ficar mais limitada e dependente por causa da falta de visão?

FMM

Nota: por questões de privacidade não revelo o nome da pessoa em questão.

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