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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Olhar não significa VER!


Porque andam as pessoas (neste caso, jovens) tão alienados?
Confesso que gosto de observar pessoas, não no sentido de um voyeurismo doentio, mas no sentido de entender o que as move, como atuam e reagem perante diversas situações, como comentam as notícias (às vezes leio mais os comentários que as próprias notícias!!) e por aí fora. 
No trabalho que tenho com crianças, jovens e adultos com baixa visão ou cegueira, dou por mim a observar, não só como as pessoas com DV se comportam e reagem perante as situações que aparecem ou perante aquelas que eu próprio provoco para testar alguns conhecimentos ou avaliar a sua destreza quando encontram obstáculos, mas também como as outras pessoas reagem perante eles.
As reações vão desde a preocupação extrema e exagerada perante tudo o que tenha a ver com a cegueira, à completa indiferença e quase alienação da presença do outro. Talvez este comportamento seja transversal a todos os que os rodeiam. Pessoas fechadas sobre si mesmas, a viver no seu mundo...
Eu não sou assim, se vejo um idoso a atravessar a rua vejo se está a fazê-lo em segurança; se vejo uma criança sozinha, olho em volta à procura de um pai, ou um irmão mais velho; se vejo uma pessoa a cair, apresso-me para a ajudar...
Posto isto, esta 'conversa' toda vem a propósito de algo que aconteceu hoje. Não sendo grave, a reincidência de acontecimentos do género fizeram-me escrever isto.
Hoje quando a minha aluna estava a preparar-se para subir as escadas de acesso de um edifício, reparei que estava uma jovem sentada nas mesmas, mesmo no local por onde a aluna costuma passar. 

A aluna veio no seu percurso, com a bengala (tic-tic-tic) a marcar cada passo, segura de si, autónoma e confiante. Iria subir as escadas por onde todos os dias sobe, sabe que é por ali que é mais seguro e lá se dirige para os primeiros degraus. 

A jovem sentada, ao ouvir o tic-tic da bengala olha na nossa direção e vê-nos. Reação - a minha expetativa: que se levantasse e facilitasse a passagem da aluna; o que aconteceu: não teve reação, voltou a olhar para o telemóvel e deixou-se ficar onde estava. 
Naqueles segundos pensei se não deveria avisar a aluna para ela se desviar, mas logo achei que até seria bom ela 'esbarrar' contra o obstáculo, seria uma forma 'real' de lhe lembrar que, apesar de se fazer o mesmo percurso todos os dias, há sempre a possibilidade de surgir algo inesperado.
E assim foi, deixei-a ir. A jovem levou com a bengala, a aluna identificou e ultrapassou o obstáculo e todos continuaram a sua vida.
Mas fiquei com esta ideia na cabeça: porque é que olhamos para os outros e não os vemos? Porque é que estamos a ver uma pessoa cega a vir na nossa direção e não temos a destreza mental de perceber que somos nós que temos que nos desviar? Andamos assim tão alienados? 
Eu observo e tento perceber as situações. Mas há muitas coisas que não percebo. 
Vou continuar a olhar e a ver se percebo.

FMM

2 comentários:

  1. Tal como o professor também eu não entendo..
    Vivemos num mundo demasiado egoísta e preocupado apenas e só com o seu umbigo.
    Lamento que os nossos jovens não contrariem está minha ideia, pois serão eles os adultos de amanhã, que irão educar os jovens do futuro.....
    Será que vai ser sempre assim
    O futuro preocupa.me tanto 😔

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    1. Falta muita humanidade. O mundo está de loucos e cheio de loucos, alienados e malcriados. O que vale é que ainda há muita gente boa e muitos jovens extraordinários, como uma menina que nós conhecemos. A maré é forte mas rememos contra ela.

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