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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Toque para intervalo = toque de pânico para as crianças com deficiência visual.

TRiimmm...
A campainha que sinaliza o final de uma aula é, normalmente, recebida com euforia por quase todos os alunos de uma escola. Isto não quer dizer que eles estejam fartos das aulas (às vezes estão!), mas sim que estão com muita vontade de ir brincar, de saltar e correr pelos corredores ou no campo de jogos. Escrevi quase todos os alunos porque, para alguns, esse toque significa outra coisa. Nos 1º e 2º ciclos, em idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos, a energia acumulada de 45 ou 90 minutos sentados numa sala de aula fá-los 'explodir' nos intervalos. E então, como poderá uma criança com mobilidade reduzida devido à baixa visão ou cegueira 'explodir' daquela forma e libertar essa energia? 
O que mais me preocupa é como poderá essa criança acompanhar os seus colegas. Se todos desatam a correr e 'desaparecem', uma criança com problemas visuais terá com toda a certeza a sensação de que foi abandonada. Deve ser um pânico.
Penso que é ponto assente que não devemos 'obrigar' ninguém a esperar por um colega com deficiência visual. É muito comum utilizar a técnica peer mas em contexto de aula. 
Ao professor de Educação Especial cabe sensibilizar os alunos da turma e da escola para esta temática, abrindo-lhes os horizontes sobre esta matéria, provocando uma reflexão sobre como será viver com pouca ou nenhuma visão. Se a fizerem talvez mudem a sua atitude e pensem que o que fazem a 100 à hora sozinhos, poderão fazer a 50 na companhia do seu colega. É preciso abrandar.
Ao aluno com deficiência visual cabe tentar criar amizades, pessoas em quem possa confiar, que respeitem a sua menor velocidade e que compreendam. 
Num mundo virado para o 'parecer' mais do que o 'ser' deve ser difícil fazermos a diferença pelo 'ser'.
Não há como não ficar de coração partido quando um aluno com problemas visuais diz que um colega tinha ficado de brincar com ele no intervalo seguinte e, afinal, tinha-se esquecido dele. 
É preciso ser muito forte para aguentar isso, e muito mais.
Tenho o maior respeito pelas pessoas com deficiência visual. Muitas vezes parece que têm o mundo inteiro contra elas. Hoje em dia é muito fácil 'desaparecer' da frente das pessoas, mesmo quando elas vêem bem, com toda a azáfama do dia a dia. Agora imaginem que não vêem... Pois. 
Como fazer ligações a essa velocidade?

Nota: a escola onde lecciono é escola de referência para a educação de crianças e jovens com deficiência visual e tem uma estrutura de apoio bem montada que não permite que aluno (com DV) algum fique sem apoio, tanto na sala de aula, como nos intervalos e horas de refeições.
FMM



1 comentário:

  1. Parte o coração e os possíveis comentários ficam bloqueados dentro de nós ... pois esta realidade, embora possa ser por nós "compreendida", nunca será imaginável. Existem SERes muitos especiais por aí ... que não dão nas VISTAS, mas que, se estivermos ATENTOS, nos ensinam verdadeiras LIÇÕES. Grata Fernando por nos despertares os sentidos!

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