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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

III Conferência Deficiência Visual e Reabilitação "Prevenção Visual e Inclusão"



 Foi uma jornada muito esclarecedora, numa primeira parte dedicada à parte fisiológica da deficiência visual e uma segunda mais relacionada com a parte educacional e de reabilitação da pessoa com deficiência visual. Muito interessante foi o facto de estarmos em video conferência com a universidade do Mindelo, em Cabo Verde. Estão a formar-se os primeiros licenciados em Ortótica no país. Foram-nos apresentados dados preocupantes em relação à saúde visual dos países em desenvolvimento. Felizmente, Cabo Verde é um dos que tem vindo a combater algumas doenças que são pouco incidentes em Portugal, como o tracoma
A falta de condições de higiene e a falta de vitamina A são duas das causas mais importantes das doenças visuais que assolam os países em desenvolvimento. Apesar dos esforços da comunidade internacional e também de alguns governos locais, a situação continua preocupante. Há muito a fazer no terreno.


A área científica de Ortóptica, da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL), e a Associação de Retinopatia de Portugal promoveram no dia 7 de dezembro de 2016, no Auditório da ESTeSL/ESEL, a III Conferência subordinada ao tema Deficiência Visual e Reabilitação - "Prevenção Visual e Inclusão", no âmbito do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.


Deixo-vos aqui o programa:
14h00 – Abertura do Secretariado

14h30 – Sessão de abertura
·         João Lobato
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL - IPL)
·         Rui Manuel Fontinha Vasconcelos
Associação de Retinopatia de Portugal (ARP)
·         Manuel de Oliveira
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL - IPL)

14h45 – Painel I – Prevenção da Deficiência Visual – Desafios e Estratégias
  • Cegueira Evitável - Vision 2020, The Right to Sight - Parcerias para o Desenvolvimento - Salomé Gonçalves
    Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP)
·         Causas da deficiência visual na sociedade contemporânea – Estratégias de Intervenção - Maria Emilia Oliveira
Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP)
·         O Rastreio da Retinopatia Diabética - Uma Estratégia para a Prevenção da Cegueira - Carolina Santos
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) 

Moderador – Manuel de  Oliveira
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL - IPL) 

16h15 – Pausa 

16h30 – Painel II - Políticas de Inclusão do Jovem com Deficiência Visual
·         Olhar o Escolar Ver o Integrar - Lurdes Veiga
Agrupamento de Escolas Dr. Ginestal Machado - Santarém
·         Desafios e oportunidades de uma estudante com baixa visão - Paula Monzelo
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL - IPL)
·         Programas de Reabilitação nas Pessoas com Cegueira Adquirida - Ana Magalhães
Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos (CRNSA)

Moderador – Rui Manuel Fontinha Vasconcelos
Associação de Retinopatia de Portugal (ARP)                    

18h00 – Encerramento

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ceguinhos NÃO... Senhores Cegos se faz favor!


Fico furioso quando utilizam a palavra 'ceguinhos' para falar sobre as pessoas cegas. A palavra 'ceguinho' traz um estigma tão grande e uma conotação tão negativa que me enoja. O 'ceguinho' é o coitadinho, incapaz, que mete dó, que não tem expressão nem importância na sociedade, que é uma minoria, que ninguém conhece, que é infeliz, que não tem autonomia.
Logicamente, ouvi isso hoje. Não interrompi a pessoa, limitei-me a esperar para ver até onde é que a pessoa iria. Feliz ou infelizmente alguém avisou: "Olha que ele trabalha com cegos." 
O contexto e o local onde me encontrava e a minha educação impediram-me de responder como gostaria por isso, respondi como pude. 
A propósito, deixo aqui esta reflexão. Os apoios existentes (muito poucos por sinal; Torres Vedras é caso único do género com o Gabinete de Apoio à Deficiência Visual - GADV) e as infraestruturas que se constroem para as pessoas cegas não são coisas menores que só dizem respeito a essas pessoas e às suas famílias.
É dever de todos os cidadãos e da sociedade minorar as barreiras arquitetónicas existentes, dando a todos (com deficiência ou não) oportunidade de se deslocarem com a autonomia e a dignidade que merecem. 
Cada vez mais sei que há ainda um longo caminho a percorrer. 
Uma cidade acessível e respeitadora de todos é uma sociedade evoluída, saudável e justa. 
Primeiro é preciso mudar as mentalidades, porque só mentalidades limpas de preconceito conseguem tornar o mundo um lugar melhor para todos.
Eu não conheço nenhum 'ceguinho'. E vocês?

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Toque para intervalo = toque de pânico para as crianças com deficiência visual.

TRiimmm...
A campainha que sinaliza o final de uma aula é, normalmente, recebida com euforia por quase todos os alunos de uma escola. Isto não quer dizer que eles estejam fartos das aulas (às vezes estão!), mas sim que estão com muita vontade de ir brincar, de saltar e correr pelos corredores ou no campo de jogos. Escrevi quase todos os alunos porque, para alguns, esse toque significa outra coisa. Nos 1º e 2º ciclos, em idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos, a energia acumulada de 45 ou 90 minutos sentados numa sala de aula fá-los 'explodir' nos intervalos. E então, como poderá uma criança com mobilidade reduzida devido à baixa visão ou cegueira 'explodir' daquela forma e libertar essa energia? 
O que mais me preocupa é como poderá essa criança acompanhar os seus colegas. Se todos desatam a correr e 'desaparecem', uma criança com problemas visuais terá com toda a certeza a sensação de que foi abandonada. Deve ser um pânico.
Penso que é ponto assente que não devemos 'obrigar' ninguém a esperar por um colega com deficiência visual. É muito comum utilizar a técnica peer mas em contexto de aula. 
Ao professor de Educação Especial cabe sensibilizar os alunos da turma e da escola para esta temática, abrindo-lhes os horizontes sobre esta matéria, provocando uma reflexão sobre como será viver com pouca ou nenhuma visão. Se a fizerem talvez mudem a sua atitude e pensem que o que fazem a 100 à hora sozinhos, poderão fazer a 50 na companhia do seu colega. É preciso abrandar.
Ao aluno com deficiência visual cabe tentar criar amizades, pessoas em quem possa confiar, que respeitem a sua menor velocidade e que compreendam. 
Num mundo virado para o 'parecer' mais do que o 'ser' deve ser difícil fazermos a diferença pelo 'ser'.
Não há como não ficar de coração partido quando um aluno com problemas visuais diz que um colega tinha ficado de brincar com ele no intervalo seguinte e, afinal, tinha-se esquecido dele. 
É preciso ser muito forte para aguentar isso, e muito mais.
Tenho o maior respeito pelas pessoas com deficiência visual. Muitas vezes parece que têm o mundo inteiro contra elas. Hoje em dia é muito fácil 'desaparecer' da frente das pessoas, mesmo quando elas vêem bem, com toda a azáfama do dia a dia. Agora imaginem que não vêem... Pois. 
Como fazer ligações a essa velocidade?

Nota: a escola onde lecciono é escola de referência para a educação de crianças e jovens com deficiência visual e tem uma estrutura de apoio bem montada que não permite que aluno (com DV) algum fique sem apoio, tanto na sala de aula, como nos intervalos e horas de refeições.
FMM



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Carta ao Zé

Caro Zé, esta carta é para ti. Sei que nada do que vou escrever aqui poderá aliviar a dor que estás a sentir neste momento. Além da dor física pela qual estás a passar devido ao herpes zoster que teimosamente decidiu atacar os teus olhos, há também a dor psicológica, o medo, o descontrolo, a sensação de que se está a perder tudo aquilo que anteriormente tínhamos como adquirido. Não nos conhecemos mas uma amiga em comum trouxe-te aqui, ao meu blog. Decidi escrever-te esta carta publicamente porque, ao contrário do que estás a pensar neste momento, há muitos Zés no mundo, no nosso país, muitas vezes até mesmo bem perto de nós. Assim, esta carta não é só para ti, mas para todos os que neste momento possam estar a passar por uma situação semelhante. 
Sei que de uma forma abrupta e repentina perdeste grande parte da visão que tinhas. A doença avançou sem avisar e apanhou-te desprevenido. Ninguém está preparado para uma coisa destas. Estás a passar por um processo que é comum a muitas pessoas que têm o mesmo problema. Eu conheço algumas. Sei que neste momento a esperança num tratamento eficaz já não é muita e que aquela fé e a esperança começam a esmorecer. Acredita que essa esperança e essa fé nunca acabam. Não deve estar muito longe dos 100% as pessoas de baixa visão ou cegas que, no fundo, acreditam que amanhã irá aparecer um tratamento inovador que as fará ver melhor, ou tornar a ver. Têm todas as razões para isso. Com o avanço da tecnologia e toda a investigação que tem sido feita nesse sentido (inclusive em Portugal, através da Fundação Champalimaud, por exemplo) é expectável que num futuro próximo possa haver cura ou tratamento para algumas das doenças oculares mais comuns. 
Mas antes desses tempos de esperança e de reabilitação, há um período muito complicado, o qual deves estar a passar neste momento. No meu trabalho com os utentes do GADV (Gabinete de Apoio à Deficiência Visual) um dos temas recorrentes das nossas conversas e que têm uma transversalidade impossível de ignorar, é o facto de todos eles terem passado por um período de 'luto'. Esse período caracteriza-se primeiro por uma negação da real situação médica. A pessoa não aceita que perdeu, ou está a perder a visão. Até um determinado ponto a pessoa acredita que aquilo não está a acontecer com ela e que logo logo consegue recuperar e tudo não passou de um susto. Quando as coisas demoram a melhorar e o prognóstico não é o mais animador, a pessoa tende a auto-culpabilizar-se ou a culpabilizar os que o rodeiam pela sua situação. Esta situação é muito desgastante, há graves conflitos interiores e também sociais. A pessoa muda a sua atitude perante a sociedade e tende a isolar-se. De qualquer forma a perda de visão estimula esse isolamento. É a ideia de que se já não consigo sair de casa sozinho, então não saio mesmo, entre outras coisas. Todo o papel social da pessoa sofre uma alteração. Desculpa Zé, se já estou a ir longe demais. Noutros posts falei aqui sobre o estigma. Esse estigma cai agora como um peso quase insustentável. A pessoa tende a sentir-se inútil e tem problemas em lidar com as outras pessoas, tanto as estranhas como aquelas que lhe são mais próximas. 
Não te conheço Zé, mas vou arriscar que estás naquela fase em que consideras esta carta uma perda de tempo. Pensas que isto não é para ti. Seja como for, isso não me detém. 
O luto é o deserto. É atravessá-lo, assim mesmo, sem mais nada. Por muitos amigos que se tenham, por muito que a família esteja presente, é sempre um percurso solitário, ninguém poderá percorrê-lo por ti. Não é justo falar-te do deserto e não referir o que está do lado de lá. Depois de atravessá-lo há todo um mundo por explorar. Não queria estar aqui com lugares comuns e frases de incentivo dos livros cor de rosa. A frase de 'O Principezinho' que diz que o 'essencial é invisível aos olhos' é muito bonita, mas é para quem vê. Não me posso pôr na tua pele porque, felizmente, vejo muito bem. Também não posso dizer que sei pelo que estás a pensar; não, não sei. O que te posso dizer é aquilo que tenho estudado e observado nas pessoas que acompanho no gabinete. Felizmente tenho lá pessoas com muita força, que já passaram (ou estão a passar; algumas nem nunca vão deixar de passar) pelo 'luto' e que tentam ultrapassar as dificuldades e viver da melhor forma possível com o problema visual que cada um tem. Não é fácil, há muito a fazer. Primeiro tem que haver uma transformação interna. A aceitação da condição é um passo importante (aceitar não é deixar de acreditar no tratamento ou na cura), depois é encontrar forças para fazer a reabilitação. Como o nome indica a reabilitação vai fazer com que a pessoa readquira a possibilidade de fazer o que fazia antes (não tudo, naturalmente) mesmo tendo problemas visuais. Nesta fase a pessoa deve dar-se a essa possibilidade e dar a oportunidade aos outros de ajudarem. Há instituições que sabem o que fazem e fazem um trabalho espetacular, como o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa (na reabilitação), a APEDV (nas questões da empregabilidade) e a ACAPO (numa perspetiva mais abrangente).
O que está do outro lado do deserto vai sempre depender da pessoa que o percorrer. É a força interior da pessoa que vai definir isso.
A carta já vai longa e quero só deixar aqui um exemplo de uma pessoa que cegou em idade adulta, devido a diabetes. Nunca mais esqueci as palavras dela. Disse que, quando cegou, pensou que tinha morrido. "Eu morri ali. Depois inscrevi-me no centro (Nossa Sra. dos Anjos) e reaprendi a viver". Esta senhora é um exemplo daquilo que referi. Ela atravessou o seu deserto e estava ali, num grupo de 40 pessoas a dar o seu testemunho e o seu incentivo. Ainda por cima vinha de uma aldeia bem do interior de Portugal. Nunca tinha visto mar e estava numa colónia de férias na qual eu era monitor. No dia em que fomos fazer jogos na praia, pediu-me para ir ao mar. Queria sentir as ondas a bater nas pernas. O mar não estava muito convidativo, mas ela foi tão insistente, puxou-me tanto para entrarmos cada vez mais, que, a certa altura, veio uma onda mais forte e enrolou-nos completamente. Havias de ver a felicidade dela ali, comigo, toda molhada, numa mistura de água salgada e areia. Talvez esteja aí aquilo que estou a tentar transmitir mas sem o escrever, porque só tu é que poderás encontrar e o que quer que escreva vai parecer estúpido, simplesmente porque não sou eu, és tu. Só tu sabes. 
Talvez o segredo seja esse, conseguir ser feliz com uma onda e montes de areia na cara. Quem sabe?
Esta carta já vai mesmo muito longa. Talvez a maior parte das pessoas que a abriu não vai lê-la até ao fim, mas tu vais, mesmo pensando que ela não é para ti. Se calhar não é mesmo. Só tu saberás.
Um grande abraço Zé, estou por aqui e muita gente está por aí. 
Tu é que sabes.
FMM

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Livros para escutar (e ver)...

E se de repente tivéssemos os próprios autores dos livros a lerem-nos as suas histórias?

Pois, temos.

Numa excelente iniciativa é possível aceder a um conjunto de histórias no blog do Público "letra pequena".

Uma ótima ideia para todas as crianças, quer normo visuais, quer cegas.

Eu já experimentei com os meus alunos e eles gostaram bastante.

Aqui está o blog.

Congresso Internacional Escola Inclusiva - Educar e Formar para a Vida Independente

Porque este é um tema que interessa sobremaneira a todos os que, de alguma forma, lidam com a deficiência, deixo aqui a divulgação deste congresso.
No que diz respeito aos utentes do GADV, na minha opinião, a autonomia é mais do que um fim, uma meta, a autonomia é o caminho em si, que abre horizontes e torna tudo possível. Aos interessados aqui fica a informação:


Congresso Internacional «Escola Inclusiva: Educar e Formar para a Vida Independente», que decorrerá na Casa das Histórias Paula Rego, Cascais, dia 3 de Dezembro.

Inscrições:
1 a 20 de novembro – 20,00€
21 de novembro a 2 de dezembro – 30,00€

A conferência terá tradução bilingue (PT/EN) e língua gestual.

Programa:
08:30 – Registo dos participantes

09:30 – Mesa de abertura
• Secretário de Estado da Educação, João Marques da Costa
• Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras
• Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva (a confirmar)
• Diretor do Centro de Formação de Escolas de Cascais, José Marcelino
• Vice-Presidente da Direção da CERCICA, Rosa Maria Lucas Neto

10:15 – Conferência “Advancing Inclusive Education: Transformative Steps on the Path”
Gordon L. Porter, Inclusive Education Canada, Education Training Group, University of New Brunswick

11:00 – Coffee break

11:30 – Conferência “Educação Inclusiva: resistir pela escola que queremos”
David Rodrigues, Associação de Professores de Educação Especial, Centro de Investigação do IE/UL, Conselho Nacional de Educação
Moderador: Pedro Cunha, Direção-Geral da Educação

12:15 – Debate

12:45 – Almoço livre

14:00 – Conferência “Formação de professores para a inclusão”
Teresa Leite, Escola Superior de Educação de Lisboa, Conselho Nacional de Educação

15:00 – Painel “Escola Inclusiva de 2ª Geração”
Luísa Ucha, Secretaria de Estado da Educação - Grupo de Trabalho Escola Inclusiva
Manuela Tender, Assembleia da República - Grupo de Trabalho Educação Especial (a confirmar)
Moderadora: Filomena Pereira, Direção-Geral da Educação

16:00 – Debate

16:30 – Mesa de encerramento
• Vereador da Câmara Municipal de Cascais, Frederico Pinho de Almeida
• Diretor do Centro de Formação de Escolas de Cascais, José Marcelino
• Vice-Presidente da Direção da CERCICA, Rosa Maria Lucas Neto


Informação retirada da: DGE

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Jantar do GADV nas Festas da Cidade 2016 - Torres Vedras

Entre utentes do GADV e acompanhantes foram cerca de 30 pessoas que se deslocaram no dia 2 de novembro ao Pavilhão Multiusos, às tasquinhas, para o jantar, que serviu para reunir parte do grupo e festejar mais um aniversário do Gabinete de Apoio à Deficiência Visual. Há três anos que temos um espaço físico, junto ao Jardim da Graça, há quatro que organizamos a semana da visão, com várias atividades direcionadas para os mais pequenos, através dos Agrupamentos de Escolas de referência para a educação de crianças e jovens com deficiência visual, e para os mais velhos, em sintonia com instituições de apoio social.
Mas há cinco anos que começámos esta caminhada, com muitos altos e baixos, mas com a certeza de que podemos melhorar o apoio às pessoas com deficiência visual, sensibilizar toda a comunidade para esta temática e contribuir para uma sociedade mais justa e equitativa.
Quanto ao jantar, fomos recebidos pela Tasquinha da Freiria, que nos serviu muito bem, com muita simpatia a boa disposição. A comida estava muito boa e o convívio foi muito salutar. 
FMM

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

IV Semana da Visão - Ação de informação e rastreios

Hoje fomos à Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras -  Clinica Domus e promovemos mais uma ação de informação junto da população mais sénior. O diagnóstico precoce é essencial no controle do glaucoma. É muito importante medir a pressão ocular com alguma regularidade.
Esta pressão é independente da pressão arterial. Uma boa pressão arterial não significa que a pressão ocular se encontre nos valores expectáveis.
Brevemente no Num Piscar de Olhos, um post sobre o Glaucoma.
FMM








quinta-feira, 27 de outubro de 2016

IV Semana da Visão - dia 4- Encontro de Goalball

Decorreu na Escola Padre Vítor Melícias um Encontro de Goalball, com a participação de equipas da Escola Básica e Secundária do Cadaval, Agrupamento de Escolas Padre Vítor Melícias e Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira.
Foi uma jornada muito participada e o espírito que envolveu o encontro foi muito positivo, de grande camaradagem e partilha. Nota-se uma grande evolução no Goalball praticado por todos, resultado do empenho dos alunos envolvidos e dos professores responsáveis.
Estão todos de parabéns!!

FMM






IV Semana da Visão - dia 3 - Conversas revelando a (D)Eficiência


Hoje fomos até à Escola Básica da Fonte Grada (Agrupamento de Escolas Padre Vítor Melícias) apresentar as nossas conversas revelando a (D)Eficiência, onde alguns utentes do GADV contam a sua história, revelando como é viver sem ver, ou vendo muito pouco. É uma lição de vida. Foi gratificante ver os nossos utentes referirem a importância do GADV para as suas vidas e como, através dele, conseguem aceder a coisas que pareciam inatingíveis e como conseguem apoiar quem precisa, quando precisa. 
Depois disso, e após ouvirem algumas dicas de como se deve guiar um cego, os alunos da escola puderam experimentar a bengala branca, puderam andar de olhos vendados, jogaram jogos adaptados e ainda conheceram a voz do leitor de voz do computador. Foi uma tarde diferente que muito lhes agradou. Penso que esta experiência contribuiu para a sua formação cívica, num claro apelo à sua humanidade e respeito pelos outros e pela diferença.


A repetir!!

FMM

terça-feira, 25 de outubro de 2016

(A Falta de) Autonomia no 'terreno'.


Em plena Semana da Visão é importante fazer também uma reflexão sobre aqueles que, estando a perder a visão, ainda não conseguiram 'dar a volta' e iniciar o seu processo de reabilitação. No outro dia relatei aqui o encontro feliz que tive com um dos utentes do GADV, o qual vinha no seu caminho, com a sua bengala, a deslocar-se com confiança e segurança. Há, no entanto, casos em que não é (ainda) possível atingir este grau de autonomia e segurança.
Enquanto caminhava pela cidade (é algo de que gosto muito de fazer, calcorreio a cidade muitas vezes) encontrei uma outra pessoa ligada ao GADV. Estava parada no meio do passeio, de olhar disperso e com ar muito inseguro. Como sei que não vê o suficiente para me reconhecer, dirigi-me à mesma e falei, assinalando a minha presença. Como não percebeu o nome e não reconheceu de imediato a minha voz ficou muito insegura, desconfiada. Insisti e lá me reconheceu. Estava à espera de alguém que haveria de guiá-la para qualquer lado. Como vê muito mal, não ousava mexer-se, estava ali, parada no meio do passeio, à espera. Perguntei se precisava de alguma coisa, se queria ir para algum lugar. Respondeu que não precisava de nada, que estaria alguém a chegar para a ajudar. Esta pessoa ainda não aceitou a sua condição. Tem recusado aulas de orientação e mobilidade. Tem vergonha. Ainda não consegue lidar com o peso do estigma. Respeito isso e espero pelo tempo certo. Quanto tempo demorará a ultrapassar isto? O quanto sofrerá uma pessoa que sente que, de dia para dia, está a ficar mais limitada e dependente por causa da falta de visão?

FMM

Nota: por questões de privacidade não revelo o nome da pessoa em questão.

IV Semana da Visão - dia 2 - Cuidar da visão: capacitação e qualidade de vida.


Ação de informação no Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

IV Semana da Visão - Dia 1 "Cuidar da visão - capacitação e qualidade de vida"




Para além de termos algumas atividades destinadas aos mais pequenos, este ano damos mais atenção à população mais idosa do concelho, aquela onde a incidência de problemas visuais é maior e onde é necessária uma maior informação e prevenção.
A pensar nisso, associámo-nos mais uma vez à PAX OPTICA e começámos uma série de ações de informação e rastreio visual chamada  “Cuidar da Visão – capacitação e qualidade de vida”.
Desloquei-me com o Dr. Rui Hipólito (Pax Optica) à Associação de Solidariedade e Ação Social da Ponte do Rol. Depois de apresentar a Semana da Visão e o GADV e referir as suas valências e o tipo de trabalho que efetuamos, houve uma abordagem sobre as doenças visuais mais comuns, principalmente o Glaucoma e reiterou-se a importância de um controle regular da tensão ocular. 
O Dr. Rui realizou depois rastreio à tensão ocular aos utentes do centro de dia. Felizmente a grande maioria apresentou resultados dentro do esperado para a sua faixa etária. 

Com o sentido de humor refinado de muitos anos de vida, uma das utentes referiu com uma gargalhada:
"Com a idade que temos e com estes resultados, está visto que vamos para o cemitério a ver bem!!"

Obrigado pela forma como nos receberam.
FMM

IV Semana da Visão


No âmbito das comemorações do 3.º aniversário da abertura do Gabinete de apoio à Deficiência Visual (GADV), vai realizar-se a IV Semana da Visão, que tem como objetivo sensibilizar a população para a deficiência visual, através da realização de várias atividades junto da comunidade, a saber: rastreios visuais, ações de sensibilização sobre a deficiência visual, atividades desportivas e culturais.

O programa está aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Autonomia no 'terreno'


Vale a pena amigos, vale mesmo a pena. Ia eu na minha vida quando vejo ao longe o meu amigo Carlos, utente do GADV, sozinho, com a sua bengala a dirigir-se, vindo da Av. 5 de Outubro para o Jardim da Graça, a fim de ir para o gabinete. A pessoa que há meses precisava de um guia para se deslocar para todo o lado estava ali, cheio de confiança e a deslocar-se com a dignidade que merece. A autonomia é isto. Foi um enorme orgulho vê-lo ali, não esperava encontrá-lo. Não me dirigi logo a ele, fiquei à distância a observar. Sabia bem que caminho iria tomar e que passadeira iria atravessar (na verdade, já passáramos ali muitas vezes), por isso esperei no final da passadeira. Os seus passos eram lentos, mas seguros. Sabia para onde ia e estava a fazer as coisas com segurança, pois a pressa pode ser inimiga e um descuido pode ser perigoso. Um automobilista distraído, um sinal no passeio, um buraco na estrada, qualquer coisa pode provocar um acidente. Lá atravessou a passadeira, cumprimentei-o efusivamente e festejei o percurso. Vinha do mercado municipal e acabou por se queixar novamente da falta de sinalização no piso que dê pistas para as entradas do local. Já tínhamos lá ido duas vezes e foi isso mesmo que constatámos. O percurso até à praça é relativamente tranquilo, com treino, mas assim que se chega perto do edifício não há forma de se saber onde fica a entrada. O Carlos voltou a lamentar isso. Talvez umas guias orientadoras no piso (ok, pode não ser a coisa mais bonita do mundo, nem se enquadrar com o tipo de piso) poderiam facilitar a orientação de quem não vê. Vale a pena, pelo menos, colocar essa possibilidade e refletir numa possível solução para isso.

Devemos ouvir as sugestões das pessoas com problemas visuais. São elas que sabem, da única maneira possível, aquilo que é preciso alterar.

É fácil colocarmos uma venda nos olhos e simularmos as coisas e tentarmos perceber o que melhor se adequa, mas, meia hora depois, tiramos as vendas e voltamos à nossa vida. 

Eles, andam de venda a vida toda...
FMM

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Goalball - um desporto diferente


Tudo escuro. Os olhos vendados impossibilitam qualquer entrada de luz.
A bola na mão. Ansiosa, responde com uns sons ao movimento. Do outro lado uma equipa espera pelo lançamento com concentração. Qualquer distracção é fatal e dá golo. O silêncio é tão forte que se ouve a respiração dos jogadores.
O árbitro diz ‘play’ e lá segue a bola, deslizando, sonora, às vezes muda, logo sonora outra vez, bem rente ao chão. Os jogadores lançam-se na direcção da bola, tentam defendê-la, tentam perceber para onde vai. O som está cada vez mais forte. Ela aproxima-se. Os jogadores lançam-se, mas falham. É golo.
É o Goalball, jogo especialmente concebido para pessoas com deficiência visual, em que também os normovisuais podem praticá-lo.
As linhas salientes no piso servem como referência espacial a todos os jogadores. Só os mais concentrados sobrevivem na escuridão, não se perdem, voltam-se para o sítio certo, ouvem a bola e defendem.

FMM (2009)

Este desporto está inserido no Desporto Escolar dos agrupamentos de escolas de referência para a educação de crianças e jovens com deficiência visual do concelho de Torres Vedras, AE Henriques Nogueira e AE Padre Vítor Melícias.


Mais informações sobre o Goalball aqui

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Falta de civismo?

Por muitas sessões de orientação e mobilidade que se tenham, há algo para o qual existe pouco a fazer: a falta de civismo das pessoas.
Deixo aqui um exemplo através destas fotografias, onde podemos ver dois carros estacionados em local proibido e ocupando a totalidade do passeio. Neste local é recorrente este tipo de comportamento. É do lado esquerdo do antigo Hotel Império, em Torres Vedras(não me recordo do nome atual). Não sei que mais se possa fazer ali, há um sinal de proibido parar (parar!! nem sequer é permitido parar) e não há alternativa ao passeio. Hoje, dois utentes do GADV tiveram que ir pela estrada para contornar os obstáculos. Como um deles está no início da aprendizagem da bengala, esta situação prejudicou sobremaneira a sessão, uma vez que a pessoa ficou completamente desorientada. 





Mais tarde passei pelo local e estava um agente da PSP a tomar conta do assunto...
 FMM

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Dia Mundial da Visão

Dia Mundial da Visão - 13 de outubro

Sabia que:

… há cerca de 285 milhões de pessoas cegas ou com problemas visuais graves em todo o mundo?

… no mundo, uma pessoa fica cega a cada 5 segundos?


80% das atuais causas das cegueiras são susceptíveis de prevenção e/ou tratamento?

Cuide da sua visão. 


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Mitos sobre a cegueira - II

Mito II

Os Cegos estão alheados do mundo ou então apercebem-se de tudo melhor que os outros.

Nota prévia: Cada caso é um caso e nunca se pode generalizar!

Uma das primeiras coisas que refiro quando estou a falar com pessoas que acompanham outras com deficiência visual, sejam familiares, colegas de turma, professores ou amigos, é que sempre que se aproximem ou sempre que tenham que sair, que verbalizem isso mesmo. Um "Olá Joana" permite que a pessoa com problemas visuais saiba várias coisas, que chegou alguém, que esse alguém a conhece e que quer falar com ela. A mesma coisa quando a pessoa se retira. Ao indicar a sua saída permite que o seu interlocutor saiba dessa situação. São situações que impedem muitos constrangimentos a uma pessoa que vê mal. Ninguém gostará de ficar a falar sozinho, pensando que a pessoa ainda está por perto. Toda esta informação recebemos normalmente pela visão. Vemos alguém a chegar e vemos alguém partir.
Este exemplo serve para reflectir sobre o mito supracitado. Os cegos poderão não estar alheados do mundo. Muitas vezes parece que estão 'na lua', mas, na verdade, a falta de estímulo visual faz com que precisem de outros incentivos à comunicação e à interação social. Isso não os torna alheados nem tão pouco antissociais.
Em relação a aperceberem-se de tudo melhor que os outros, há, de facto, relatos de pessoas com deficiência visual que referem que a sua baixa visão ou cegueira acaba por lhes dar uma perceção diferente das coisas. A falta de estímulos visuais (por vezes muito perturbadores) permite-lhes uma concentração e uma introspeção por vezes difícil de encontrar em normovisuais.
Apesar da 'vantagem' de ver o que muitas vezes olhamos e não vemos, não partirá uma pessoa cega ou de baixa visão em desvantagem quando falamos de interações sociais ou mesmo nos relacionamentos amorosos?
Como será viver sem ver nesta sociedade tão virada para a imagem?
Destrinçarão melhor o ser do parecer?
FMM

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Mitos sobre a cegueira - I


Ainda no seguimento do tema Estigma, e das ideias pré concebidas que temos das pessoas com deficiência visual, gostava de escrever sobre alguns mitos relacionados com esta temática.

Mito I

Os Cegos têm todos um sexto sentido.

Não, os cegos não têm um sexto sentido.
Há muito tempo, acreditava-se que os cegos teriam poderes ocultos, sobrenaturais. Como fugiam ao padrão, e mesmo sem a visão, demonstravam uma sensibilidade e um conhecimento fora do comum, acreditava-se que esse conhecimento estaria relacionado com as ciências ocultas, ou bruxaria, como queiram chamar.
 Ao longo do tempo essa ideia (felizmente) foi caindo.
Ao ver-se privado de um dos sentidos, é normal que os outros se revelem mais desenvolvidos. Um exemplo desta situação é no jogo Goalball, criado principalmente para cegos, mas que também é jogado por normo visuais. É notório que os jogadores com problemas visuais têm maior sentido de orientação e acabam por jogar melhor que os outros jogadores. Não há nada de sobrenatural nisto.
Ainda outra ideia sobre este assunto. Muitas vezes os professores, as educadoras ou os assistentes operacionais mostram espanto por algo que uma criança cega faça, que, na minha opinião, não passa de algo perfeitamente expectável e normal. Não o fazem por 'mal'. Por vezes a sua atitude sobreprotetora acaba por toldar a forma como olham para esses acontecimentos.
Claro que concordo com o reforço positivo sempre que algum obstáculo seja ultrapassado, mas sem exageros. Não há nada de extraordinário na maior parte das coisas que uma pessoa cega faz. Se lhe dermos as condições de que precisa, se fizer o treino que precisa de fazer (com a bengala; com o guia, etc.) e se a tratarmos como tratamos qualquer outra pessoa, poderá ter o sucesso que qualquer um tem. Os resultados terão depois a ver com a personalidade de cada um, a forma como se adapta, a sua vontade de aprender, a sua capacidade de trabalho, entre outras coisas.
Não há nada de sobrenatural nisso.
FMM 

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Este blog é acessível?

Ontem perguntaram-me como é que uma pessoa que não vê pode ler o que escrevo aqui no blog, ainda para mais sendo um blog sobre deficiência visual.
Quem não vê e quem trabalha ou se relaciona com pessoas com dificuldades visuais sabe como é que se faz.
Hoje, em vez de vos informar sobre a forma como se pode aceder a conteúdos escritos, sejam na Internet ou em ficheiros word, pretendo que este post seja mais interativo e lanço o desafio, primeiro às pessoas com problemas visuais, que partilhem a sua experiência e relatem como conseguem 'ler' os diversos conteúdos, referindo as ajudas que têm, e segundo aos restantes leitores do blog, que dêem a sua opinião sobre isto, se alguma vez pensaram sobre esta temática.
Então, como se 'lê' páginas da Internet, mails ou ficheiros do computador sem utilizar a visão?
Participem.
FMM

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Primeira sessão de orientação e mobilidade

Deve haver poucas coisas que dêem tanta satisfação a um técnico de orientação e mobilidade como a primeira sessão com uma pessoa com cegueira recém adquirida.
Primeiro instala-se a dúvida, o receio. Há algo com a bengala que limita as pessoas. Talvez, no fundo, a bengala simbolize a cegueira. Ao pegar na bengala a pessoa está a assumir perante a sociedade que é cega. Esse processo de aceitação é muito difícil e requer algum tempo. Há que passar o período de luto para depois se passar à reabilitação. Todo o estigma existente em relação à pessoa cega leva-a a retrair-se. Muitos já disseram que aprender a utilizar a bengala, sim, mas não na rua, só no gabinete. Eu compreendo mas returco que a utilização correta da bengala dá uma liberdade e uma dignidade difícil de conseguir sem essa utilização. A bengala branca permite ao cego deslocar-se em segurança, autonomamente e com a dignidade que merece.
Voltando ao tema central deste post, a primeira sessão de aprendizagem da bengala branca, sim, porque não basta entregar uma bengala e dizer à pessoa para sair por aí a deslocar-se sem primeiro perceber como se utiliza e com que propósito.
Começa-se por explicar como se monta e desmonta a bengala. A seguir explica-se como se pega. Desde o início é importante assimilar a técnica para que a utilização seja o mais eficaz e descontraída possível. A bengla 'diz-nos' muitas coisas e uma utilização correta facilita essa comunicação.
No outro dia, iniciei esta aprendizagem com uma nova utente do GADV. A sua falta de visão impede uma deslocação, dita normal, pois cada passo é medido e a insegurança toma conta da pessoa, abrindo os braços de forma a tentar proteger-se de eventuais obstáculos. Está no grau zero da mobilidade. Não tem confiança para se deslocar pelo que a locomoção é lenta, desarticulada e confusa. Após cerca de uma hora de utilização da bengala branca, em contexto controlado e seguro (o objetivo era desenvolver a pega e a técnica) a utente começou a ficar mais à vontade, já caminhava a direito, com passos seguros, de cabeça erguida e com a dignidade de que há pouco escrevia. Foi muito gratificante observar estes progressos e anseio já pelas futuras sessões para confirmá-los e aumentar o nível de exigência. Brevemente conto escrever sobre a passagem das sessões do interior para o exterior. Os desafios que se apresentam são muito exigentes e a reacção das pessoas perante os mesmos são reveladoras do seu carácter e da sua vontade de ultrapassarem os obstáculos. Não é fácil a um cego deslocar-se nas cidades portuguesas. Apesar do excelente trabalho realizado em Torres Vedras (esperamos ansiosamente pelas passadeiras acessíveis prometidas no orçamento participativo), ainda há muito trabalho a fazer, não só pela autarquia, mas também pelos cidadãos, que deviam ser mais atentos e evitar situações perigosas para quem não vê.
Para terminar partilho as palavras da utente no final da primeira sessão de orientação e mobilidade, quando já conseguia caminhar com alguma confiança: "Isto é muito bom. Parece até que eu vejo."
FMM

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O que é que um cego vê?



Será que vê tudo escuro? A maior parte das pessoas acha que sim.
Será que vê tudo claro? Há casos em que sim, vê uma luz branca muito forte.
Será que vê cores? Há relatos de cegos que vêm uma mistura de vários tons.
Há ainda quem não veja rigorosamente nada.
Há doenças que impedem que a informação visual chegue ao córtex cerebral, pelo que esta ausência torne impossível 'visualizar' o que quer que seja.
Este é uma área muito interessante por explorar. Voltarei a este assunto brevemente, mas entretanto, deixo-vos um texto do prof. Hélder Bértolo, com quem já tive o prazer de privar e que tem feito investigação nesta área. Para além disto, apresenta também alguns dados sobre o sonho dos cegos.
Deixo o teaser: Se um cego (congénito) nunca viu, que imagens surgem nos seus sonhos?

Veja aqui.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Trabalhando a autonomia.



A autonomia de uma pessoa com deficiência visual (DV) é das coisas mais importantes e das que  dá mais satisfação em se trabalhar.
Ainda a propósito dos últimos textos que publiquei, sobre o estigma, um dos maiores estigmas que existem em relação à pessoa com DV é o de que ela é pouco autónoma e de que a falta de visão compromete a deslocação entre locais.
As aulas de Orientação e Mobilidade servem para acabarmos de vez com este estigma. Pomo-lo no bolso e depois deitamo-lo fora.
Para além de se aprender as técnicas de guia e de utilização da bengala branca (que noutro post irei abordar com maior atenção), estas aulas servem também para aumentar a autonomia da pessoa. Conseguir deslocar-se do ponto A ao ponto B em total segurança é o objetivo principal.
Hoje foi um dia particularmente feliz em relação a este assunto.
Ver a expressão da cara da B. ao conseguir, praticamente sem ajuda, sair da escola (zona de conforto), ir pelo passeio e chegar ao ATL. O caminho não é longo, mas tem alguns obstáculos, que foram ultrapassados com destreza e confiança.
A razão desse sucesso assenta principalmente em quatro fatores, a capacidade de orientação, e a força de vontade da pessoa com DV e a forma como o técnico de orientação ensina a técnica adequada a cada situação e a calma e a segurança que transmite a quem aprende.
Outro fator muito importante é a ausência de paternalismos. Sejamos francos, o mundo não é cor de rosa, nem se vai adaptar às pessoas com DV. São eles que têm de se munir com as ferramentas para o enfrentar e têm que ultrapassar os seus medos e as suas angústias.
Cada dia é uma vitória, cada percurso feito uma batalha ganha. Sabendo que no dia seguinte novas batalhas virão e só os mais preparados estarão prontos para a vencer.
O meu trabalho é colocá-los nas mais diversas situações e mostrar como sair delas. O resto virá com a sua atitude, a sua destreza e a forma como querem encarar o mundo.
Querem isolar-se e entrar no ciclo de vitimização que não leva a lado nenhum, ou preferem enfrentar o mundo e sair de cabeça erguida, com toda a dignidade que merecem, sabendo que vão passar dificuldades, mas também sabendo que irão ultrapassar as mesmas?
Brevemente algumas notas sobre o treino da bengala e técnicas de guia.
FMM


domingo, 25 de setembro de 2016

Estigma (Parte II)


Um dos perigos que o estigma pode trazer é a falta de interação social. O indivíduo estigmatizado tende a autoisolar-se e poder-se-á tornar uma pessoa desconfiada, deprimida, hostil, ansiosa e confusa.
Quando a interação se dá, porém, é quando as causas e os efeitos do estigma estão presentes. Neste caso o indivíduo estigmatizado poderá ter a sensação de não saber aquilo que os outros realmente pensam dele.
No caso da pessoa cega há muitos exemplos desta situação. O estigma que as pessoas muitas vezes têm para com o indivíduo com cegueira leva-os a terem reações e atos que só uma pessoa com uma grande aceitação e autoestima poderá suportar. Já alguns alunos meus se referiram ao facto de um grande número de pessoas se dirigirem a eles falando muito alto, como se eles tivessem problemas auditivos; ou mesmo mostrarem espanto por eles falarem.
Para os indivíduos ‘normais’ o que seria um ato perfeitamente expectável de outra pessoa, torna-se um feito extraordinário se for realizado por uma pessoa portadora de deficiência.
Uma das formas que os indivíduos estigmatizados encontraram para ultrapassar alguns dos constrangimentos já referidos é na procura de grupos de ajuda mútua. Estes grupos consistem em pequenos grupos sociais, normalmente dirigidos por um representante com o mesmo estigma. Para além dos encontros, estes grupos promovem também palestras que contam com oradores, considerados bem adaptados e socialmente aceites. Estes representam a sua categoria. Esta categorização é o grupo em si.
Depois de nos referirmos à forma como o estigmatizado interage com o ‘normal’, Erving Goffman lança o conceito de ‘informados’. Os ‘informados’ prestam apoio aos estigmatizados, uma vez que estão bem cientes da sua problemática. O estigmatizado pode agir sem defesas perante os ‘informados’, sem se envergonharem e sem autocontrolo. Os médicos, enfermeiros, terapeutas e professores são exemplos de pessoas ‘informadas’. Também os que se relacionam com o estigmatizado através da estrutura social (exemplo da mulher de uma pessoa cega) são considerados ‘informados’.
Segundo Goffman (1982) existem quatro modelos de socialização:
. estigma congénito – refere-se a pessoas socializadas dentro da sua situação de desvantagem, mesmo quando estão aprendendo e incorporando os padrões frente aos quais fracassam.
. capacidade de uma família se constituir numa cápsula protetora para o seu jovem membro. O jovem sente-se protegido, há controle de informação e o estigma aparece normalmente aquando da entrada no ensino público.
No caso de um cego congénito, este só saberá que não encaixa nos padrões ditos ‘normais’ numa fase posterior da sua vida.
"Creio que a primeira vez que realmente me dei conta de minha situação e a primeira dor profunda que ela me causou foi num dia, casualmente, quando estava na praia com o meu grupo de amigos do início da adolescência. Eu estava deitada na areia e acho que os rapazes e moças pensaram que eu estivesse dormindo. Um deles disse, então: 'Gosto muito de Domenica, mas nunca sairia com uma garota cega.' Não conheço nenhum preconceito que rejeite uma pessoa de maneira tão absoluta”. (in Estigma: Notas sobre a manipulação da Identidade Deteriorada, Goffman,1982, Brasil, Zahar Editores, p. 31)
. os indivíduos tornam-se estigmatizados numa fase avançada da vida. Neste caso estes têm dificuldade em se identificarem e tendem a autocensurarem-se.
Aquando da minha experiência como monitor de uma colónia de férias para alunos com deficiência visual da Direção Regional de Educação de Lisboa e utentes do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, pude conhecer adultos com cegueira recém-adquirida que afirmaram que passaram cerca de um ano em ‘luto’, onde parecia que a vida deles tinha acabado. Passado esse ano iniciaram um processo de reabilitação e ‘(re)aprenderam’ a viver.  A partir do momento em que conseguiram aceitar a sua nova ‘categorização’, a sua nova identidade, puderam iniciar um percurso de reabilitação de inclusão na sociedade de forma bem sucedida.
. indivíduos que inicialmente são socializados numa comunidade diferente, dentro ou fora das fronteiras geográficas da sociedade normal, e que devem aprender uma segunda maneira de ser, ou melhor, aquela que as pessoas à sua volta consideram real e válida.
Para o estigmatizado há dois tipos de relacionamento. Se encontra novos relacionamentos, estes vão vê-lo com os ‘defeitos’ que tem, em termos do que é expectável. Nos relacionamentos antigos, há uma ligação à conceção anterior daquilo que foi, e os indivíduos poderão não conseguir tratá-lo nem de uma forma neutra, formal, nem com uma aceitação total.
Tendo como assente que é muito importante a interação social entre estigmatizados e ‘normais’, a interação estigmatizado-estigmatizado também é muito importante, desde que não seja motivo de segregação.
O caminho certo está na inclusão das pessoas portadoras de deficiência visual na sociedade, admitindo contactos frequentes com pessoas com a mesma situação, mas não de forma exclusiva.

Não somos todos potenciais estigmatizados? Não damos constantes informações sociais aos que nos rodeiam? 
FMM